terça-feira, 10 de abril de 2012

Escultor quer provocar reações no FESTA 54

Exposição “Solo Fértil”, de Márcio Garrido, trará cerca de 300 falos ao Festival Santista de Teatro. Questionamento move o artista, que é portuário

Há uma curiosidade que move o portuário Márcio Garrido: qual será a reação do público ao se deparar com uma porção de falos, de diferentes formatos e tamanhos? É isso o que ele pretender verificar durante o FESTA 54 – Festival Santista de Teatro, que acontece entre 13 e 21 de abril, em Santos (SP).



Garrido traz a exposição “Solo Fértil”, composta por cerca de 300 falos entalhados em madeira. A obra estará exposta no foyer do Teatro Municipal Braz Cubas, na Vila Mathias, em Santos, e faz parte das Galerias do FESTA, que pretende trazer ao público artistas locais que ainda são pouco conhecidos.
Trabalhador do porto, Márcio Garrido conta que desde pequeno teve habilidade com arte. Nos anos 1970, conheceu um grupo de artistas, no qual havia um escultor, com quem aprendeu a entalhar em madeira. Desde então passou a praticar a técnica, por hobby. Nos últimos anos passou a criar máscaras, chegando a expor em alguns locais, como a Faculdade de Belas Artes, em São Paulo.
A história dos falos começou como uma brincadeira, há cerca de cinco anos. “Eu comecei a fazer socadores de caipirinha em formato de falo, oferecendo para amigos. A coisa pegou, e os amigos começaram a comprar, achavam curioso, engraçado”, lembra.
A brincadeira começou a ser levada a sério, e a partir dessa curiosidade das pessoas, Garrido passou a pesquisar sobre a simbologia do falo. “É uma representação do fértil, de algo que dá origem à vida, que podemos ver em várias culturas. Desde o paleolítico desenhavam o homem com um falo enorme. No candomblé, o instrumento do exu é um falo. No Tibete, usam o falo para espantar os maus espíritos. No Japão, é um símbolo da fertilidade. Aqui, por exemplo, embora não reconheçam, tem uma representação muito grande na maçonaria, porque aqueles obeliscos nada mais são do que um falo, que é o falo de Osíris. Freud também tem uma ligação muito forte”, diz Garrido. O escultor lembra ainda o viés machista dado ao falo, visto bastante como sinônimo de poder. “Até em brinquedos vemos esse fascínio, como naquele boneco de padre, que você puxa a cordinha e aparece um falo enorme”, acrescenta.


Com essas pesquisas veio a ideia de povoar um jardim de falos. “Já que ele é o que fertiliza a terra, pensei em fazer isso. Procurei na internet, em literatura, se algum artista já fez isso, mas não achei nada”, afirma ele, que pretende povoar um jardim com 365 falos, um para cada dia do ano, completando um ciclo. “Se eu não tivesse vendido nenhum, já tinha completado. Minha intenção era fazer 2012, mas é muito falo”, brinca.
O material utilizado é madeira de goiabeira, e essa parte tem um caráter ambientalista, já que Garrido faz questão de coletar os pedaços que se desprendem da árvore – não corta dela, nem compra.

Arte, Política e Pensamento
O tema do FESTA 54, Arte, Política e Pensamento, também possui forte relação com a vida de Garrido. Pai e tios foram portuários, e ele se recorda de uma reunião no Sindicato da Administração Portuária em que seu pai foi preso pela guarda marítima, junto com outros sindicalistas que se reuniam no local, nos anos 1960.
Sua militância política começou no Escolástica Rosa, elegendo-se para o Centro Cívico da escola (cuja chapa inscrita se chamava Chapa Vermelha), onde no final da década de 1970 ajudou a puxar o movimento pela Anistia. A partir dali, ele e outros amigos passaram a frequentar reuniões do MDB, em seguida filiando-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), onde militou até cerca de dez anos atrás.
Sobre as expectativas para a exposição, Garrido tem a impressão de que o púbico vai aprovar. “A um primeiro momento, os falos vão chocar as pessoas, mas depois o público vai gostar”, diz.

Espaço a artistas locais
Como lembra o responsável pelas Galerias do FESTA, Carlos Bellini, o festival assume o compromisso de abrir espaço para os artistas santistas que não têm grande projeção na cidade. “São pessoas com obras de qualidade, mas que ainda são pouco conhecidos perante o público”, diz Bellini.
Também faz parte das Galerias do festival uma exposição de obras de José Carlos Amorim Neto. Artista visual e poeta, formado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, vem desenvolvendo e expondo seus trabalhos regularmente desde a década de 1990, tanto no estado de São Paulo como em outros, tendo sido premiado em diversas oportunidades.


 


Sua produção nas artes visuais abrange tanto o abstrato quanto o figurativo, além da poesia, outra forma de expressão por ele explorada. Tanto nas artes visuais como na poesia sua temática transita entre o bucólico, o romântico e em certas fases na arte engajada, usada como forma de alerta e protesto.

O Festival Santista de Teatro é realizado pelo Movimento Teatral da Baixada Santista e Associação dos Artistas, e tem como parceiros o Governo do Estado, Prefeitura Municipal de Santos e Sesc Santos. A programação completa pode ser vista no www.festivalsantista.com.br.

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